Pensadores
Filósofo alemão defende uma formação humanística, capaz de criar a consciência crítica
Theodor Adorno (1903-1969) dedi¬cou a vida ao entendimento dos processos de formação do homem na sociedade. O filósofo e sociólogo alemão foi um dos fundadores da Escola de Frankfurt, corrente de pensamento do início da década de 1920 fundamentada na ideologia marxista. Adorno teve um papel importante na investigação das relações humanas. Queria entender a lógica da burguesia industrial para defender mu¬danças na estrutura social e, com esse propósito, acabou entrando no terreno da Pedagogia – apesar de não ser consi¬derado por especialistas como um teóri¬co da área..
Para entender o pensamento de Ador¬no em relação à Educação, é importante compreender as críticas que ele faz à in¬dústria cultural, vista como a responsável por prejudicar a capacidade humana de agir com autonomia. O tema foi trata¬do pela primeira vez em 1947 no livro A Dialética do Esclarecimento, que ele es¬creveu em parceria com Max Horkhei¬mer (1895-1973), também da Escola de Frankfurt. Os autores explicam que a consciência humana é dominada pela comercialização e banalização dos bens culturais – fenômeno batizado posterior¬mente de “semi-formação”.
“Adorno afirma que há um processo real na sociedade capitalista capaz de alienar o homem das suas condições de vida”, explica Rita Amélia Teixeira Vilela, doutora em Educação pela Universidade de Frankfurt e professora da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG). É nessa discussão que está a chave para entender a crítica adorniana à escola: para o autor, a crise da Educação é, na verdade, a crise da formação cultural da sociedade capitalista como um todo. Na opinião dele, o problema da Educa¬ção está no fato de ela ter se afastado de seu objetivo essencial, que é promover o domínio pleno do conhecimento e a capacidade de reflexão. A escola, assim, se transformou em simples instrumento a serviço da indústria cultural, que trata o ensino como uma mera mer¬cadoria pedagógica em prol da “semi-for¬mação”. Essa perda dos valores, segundo o autor, anula o desenvolvimento da auto-reflexão e da autonomia humana. “Adorno critica a escola de massa por ela, segundo ele, instalar e cultuar a massifi¬cação. O resultado disso é a deformação da consciência”, diz Rita Amélia.
Numa escola em que impera a bana¬lização do conhecimento, o aluno é in¬duzido a deixar de ler com profundidade as principais obras literárias, por exem¬plo, dando lugar à absorção de apenas alguns trechos necessários para respon¬der aos exercícios escolares. “São repas¬sados nada mais do que conhecimentos fragmentados e o trabalho pedagógico está somente orientado para conseguir a aprovação em exames e um diploma”, afirma Rita Amélia. Seria a famosa “de¬coreba” de respostas prontas, em vez do estímulo ao raciocínio.
A Educação como ferramenta para a emancipação
À primeira vista, pode parecer que Ador¬no era contra a Educação. Pelo contrário. As críticas ao processo pedagógico são consequência do reconhecimento pelo autor da capacidade que ela tem de trans¬formar as relações sociais. Fica evidente em sua obra a defesa de um projeto de li¬bertação do homem por meio da forma¬ção acadêmica, porém uma formação de amplitude humanística. Para Adorno, o ensino deve ser uma arma de resistência à indústria cultural na medida em que contribui para a formação da consciência crítica e permite que o indivíduo’ desven¬de as contradições da coletividade.
O autor defende um processo educa¬cional capaz de criar e manter uma socie¬dade baseada na dignidade e no respeito às diferenças. Segundo ele, o mundo es¬taria danificado pela falta de capacidade dos indivíduos de resistir ao processo de sua própria alienação. Mesmo quando a Educação considerada ideal estiver limi¬tada e condicionada a uma realidade na¬da promissora, Adorno prega um projeto pedagógico que consiga libertar da opres¬são e da massificação. O caminho para isso é formar um indivíduo culto, com conhecimentos científicos, humanos e artísticos, preparado para uma vivência democrática. “A perspectiva sociológica de seu pensamento fazia com que ele considerasse a escola como a instituição capaz de formar o homem não domina¬do, pleno de autonomia de pensamento e ação em todas as instâncias da vida so¬cial”, diz Rita Amélia. “Esse homem re¬sistiria ao processo de massificação e de adaptação cega à ordem estabelecida”.
Adorno acredita que a cultura da so¬ciedade capitalista impõe um mecanis¬mo de construção da heteronomia (ou seja, a sujeição do individuo à vontade de terceiros), fazendo o homem ser igual ao coletivo e perder, assim, sua individuali¬dade. Sob esse ângulo, o indivíduo perde a capacidade de pensar e agir por conta própria e, consequentemente, de ser soli¬dário e respeitar o próximo. Na opinião dele, somente essa alienação poderia explicar uma situação tão grave como a barbárie presente na sociedade – Ador¬no utiliza o Holocausto e os campos de concentração como símbolos máximos da selvageria humana.
Biografia
Da crítica musical para a Teoria Crítica
Theodor Ludwig Wiesengrund Ador¬no nasceu em 11 de setembro de 1903, em Frankfurt, Alemanha. De uma família bem-sucedida, formou¬se em Sociologia, Filosofia e Artes. Filho de uma cantora lírica, estudou piano e, entre 1921 e 1932, publicou cerca de 100 artigos sobre crítica e es¬tética musical. Aos 21 anos, tornou-se doutor em Filosofia e participou da criação da Escola de Frankfurt. Sete anos depois, tornou-se professor da Universidade de Frankfurt.
Por ser judeu, foi proibido de lecio¬nar pelos nazistas e, em 1934, fugiu para Londres. Em 1941, mudou-se pa¬ra Los Angeles, nos EUA, e só voltou à Alemanha em 1949. Foi reintegrado à universidade e ali lecionou até sua morte, em 6 de agosto de 1969.
A filosofia de Adorno é marcada pela crítica à sociedade de mercado, voltada para o progresso técnico. Entre suas principais obras estão A Dialética do Esclarecimento, A Idéia de História Natural, Dialética Negativa e Teoria Estética.
Os caminhos de Adorno
A Escola de Frankfurt foi fundada em 1924 com o nome de Instituto para a Pesquisa Social por Max Horkheimer (1895-1973), Herbert Marcuse (1898-1979), Friedrich Pollock (1894-1970), ¬Erich Fromm (1900-1980), Felix Weil (1898-1975) e Theodor Adorno.
Mesmo com ideais marxistas, eles negavam a “Ditadura do Proletariado” e defendiam a democracia. Combatiam ¬qualquer forma de governo totalitário e acreditavam que a tolerância era o único meio de criar relações sociais plurais, solidárias e justas. Foram os criadores dos conceitos de indústria cultural e cultura de massa.
Adorno partilhava idéias com filósofos alemães. Como Immanuel Kant (1724-1804), acreditava que homem deve usar a razão para agir sobre o seu destino. Tal qual Friedrich Nietzsche (1844-1900), alertava para a incapacidade da civilização ocidental de buscar a própria libertação.
Bibliografia
Dialética do Esclarecimento, Max Horkheimer e Theodor Adorno, 224 págs. Ed. Jorge Zahar, tel. (21) 2108-0808
Educação e Emancipação, Theodor Adorno, 190 págs., Ed. Paz e Terra, te!. (11) 3337-8399
Indústria Cultural e Sociedade, Theodor Adorno, 120 págs., Ed. Paz e Terra
Teoria Estética, Theodor Adorno, 555 págs., Ed. 70, te!. (11) 3885-6624
Fonte: Revista NOVA ESCOLA nº 227 (novembro / 2009) – Ano XXIV