OS DESMANDOS protagonizados pelos congressistas brasileiros têm sido tão frequentes nos últimos tempos que corre o risco de tornar-se automático e sem surpresas o noticiário sobre o tema. Mas a previsibilidade no privilégio e no deboche talvez não passe de efeito estatístico. Quando se chega ao detalhe individual, verdadeiras proezas de originalidade se destacam. É ilustrativo, assim, acompanhar os “capítulos” em que se desdobra a cobertura realizada pela Folha a respeito do uso de verba indenizatória pelos deputados federais. Relacionam-se agora as viagens de parlamentares a estâncias turísticas, pagas com recursos do contribuinte.
Assim resumido, o abuso segue os padrões da “normalidade” congressual. Tome-se, entretanto, o caso do deputado Ennio Bacci (PDT) -e tudo se tinge de humor sinistro. Sua estadia numa cinematográfica pousada do litoral catarinense teve como justificativa o interesse em conhecer o sistema prisional daquele Estado -em especial, explica, “os contêineres, como modelo emergencial de gerar celas para os presos”. Eis um método, sem dúvida, de análise comparativa dos padrões de conforto humano -na qual, de forma menos extremada, também incidiu o deputado Laurez Moreira (PSB-TO). Passou um fim de semana grátis na estância termal de Caldas Novas, em Goiás, declarando intuito de recolher ideias para o incremento do turismo em seu Estado.
Revelados pela Folha após dura batalha judicial contra o sigilo nas contas parlamentares, casos assim acrescentam colorido próprio aos escândalos de sempre. Não só a irregularidade mas também as justificativas para cometê-la concentram, de forma antológica, as peculiaridades do cinismo nacional.
Fonte: Folha de São Paulo
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Dinheiro fácil a show faz Turismo paraíso de emenda parlamentar
Periférico na Esplanada dos Ministérios até o início do segundo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o Turismo virou o centro das preocupações dos políticos e o eldorado das emendas individuais de deputados e senadores ao Orçamento Geral da União (OGU). O motivo por trás da atração orçamentária é fácil de explicar: o ministério tem um verba destinada a financiar eventos de promoção de turismo que sai sem licitação e em até dois meses depois de autorizado o pagamento da emenda do parlamentar.
O resultado é que neste ano eleitoral de 2010, quando um palco de show promocional pode servir de palanque aos candidatos, o Ministério da Saúde caiu para o 4º lugar no ranking das emendas, posição ocupada pelo Turismo quatro anos atrás. Agora, com a pasta transformada em campeã das emendas individuais de deputados e senadores, os recursos para shows e festas populares multiplicaram por oito.Os números chamaram a atenção da Controladoria-Geral da União (CGU), que decidiu intensificar a fiscalização ao contabilizar R$ 679,5 milhões para custear festas e shows em 2010, frente aos R$ 962 milhões destinados a Saúde.
Fonte: O Estado de São Paulo