O Trambiqueiro (Soneto 268)
Bandido, celerado, meliante,
pirata, bucaneiro, bandoleiro,
corsário, flibusteiro, pistoleiro,
falsário, plagiário, ator, farsante.
Mentor, capanga, cúmplice, mandante,
ladrão, sequaz, comparsa, quadrilheiro,
facínora, assaltante, tesoureiro,
banqueiro, vigarista e tutti quanti.
Prefeito, magistrado, malfeitor.
Jagunço, deputado, edil, suplente.
Um estelionatário, um senador.
O vice, o candidato, o pretendente.
O correligionário, o estuprador.
O Papa, o ditador, o presidente.
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Das Analogias (Soneto 828)
“Bancada” com “cambada” bem combina,
assim como “político” é “ladrão”.
Carecas de saber todos estão
que “gorja” ou que “caixinha” é uma propina.
O “toma lá, dá cá” nunca é sovina
tratando-se de cargos no escalão
mais alto: os que bastante esmola dão
recebem tudo em dobro, a Igreja ensina.
Por “câmara”, a de gás melhor convinha
a quem é deputado; a um senador,
machado, como morre uma galinha!
Dos outros dois poderes, o sabor
de vê-los fuzilados se escrevinha
“justiça executiva”, é de supor.
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Judicial (Soneto 905)
Sofrera um inocente, tendo sido
por várias testemunhas apontado
como autor do homicídio do abastado
gerente dum comércio de tecido.
Sofrera na polícia, que bandido
então o considera, e para o Estado
culpado foi num caso já encerrado,
embora muito pouco esclarecido.
Sofrera pela imprensa, que divulga
seu nome e foto e a vida lhe arruína,
como quem foca a lupa numa pulga.
Mas sofre ainda mais porque a “divina”
justiça, já morosa quando julga,
demora pra soltá-lo: é que “examina” …
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O Oportunista (Soneto 166)
A paremiologia tem ditados
pra situações contrárias, a calhar.
Pergunta-se: a verdade é peculiar?
Sectária? Relativa? Ou são furados?
Responde-se que os réus são sentenciados
porque cada juiz tem seu olhar.
Segundo alguns, você pode falhar;
Pra outros, inocentes são culpados.
Um diz: “Cada cabeça, uma sentença.”;
Diz outro: “…tem cem anos de perdão.”;
E um outro diz que “O crime não compensa.”…
Assim, também eu tenho meu refrão,
que aplico com poética licença:
“Versão de ocasião faz o ladrão.”
Por Glauco Mattoso